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  O QUE É SAÚDE MENTAL?  

Saúde mental é o termo utilizado para descrever a qualidade de vida de uma pessoa. É um conceito relacionado à forma como ela reage às exigências e aos estresses da vida cotidiana e a como procura lidar com suas emoções. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, não existe uma definição oficial ou única de “saúde mental”. O que importa para se considerar alguém mentalmente saudável é, principalmente, a sua capacidade de sentir-se bem consigo mesmo e com as outras pessoas de seu convívio.

Especialistas da área da psicologia admitem que estar em dia com sua saúde mental vai além de somente a ausência de transtornos. A subjetividade humana, campo ainda em estudo e expansão, continua em constante processo de descobertas – e por se tratar de um assunto tão ligado às experiências e emoções de cada indivíduo, a manifestação dos sintomas não se apresenta necessariamente da mesma forma para todas as pessoas. Ainda assim, alguns pontos são recorrentes, na opinião de psicólogos e psiquiatras, ao se falar sobre a manutenção da saúde mental:

  • Manter uma atitude positiva em relação a si próprio;

  • Procurar se engajar em atividades que visem o crescimento

       pessoal e a auto-realização;

  • Ter respostas emocionais adequadas às situações vividas;

  • Apresentar certo nível de independência e determinação;

  • Possuir percepção apurada da realidade;

  • Saber lidar com situações sociais sem obstáculos

Ao longo da vida, qualquer pessoa pode passar por alguma fase ou episódio de sofrimento psíquico – os transtornos mentais não fazem distinção de raça, classe ou gênero. O importante, caso isso venha a acontecer, é saber reconhecer seus limites e procurar ajuda.

Louco é o que, além de alguém diferente de você? Acho que esse é o grande ponto, querer que todo mundo se enquadre em um padrão que talvez nem todos estejam prontos ou dispostos a seguir.

Thalita Pacheco

psicóloga

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 Psicóloga Beatriz Fontenele fala sobre médicos e tratamentos 

Em geral, no campo de estudos voltado para os caminhos da mente, prefere-se usar palavras como transtorno ou distúrbio ao invés de doença para se referir às disfunções que afetam a psique. Isso é devido ao fato de que poucos quadros clínicos mentais apresentam todas as características necessárias para se encaixar na definição tradicional de doença – sintomas facilmente identificáveis e causa atribuída de maneira precisa, por exemplo. Os transtornos mentais nem sempre se manifestam da mesma forma, portanto as formas de tratamento também não são as mesmas. Podem variar de pessoa para pessoa, mesmo que se trate do mesmo transtorno.

Para desenvolver uma maneira eficaz de facilitar a identificação e o diagnóstico dos desvios, dois sistemas de classificação são, atualmente, utilizados: a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), da Organização Mundial da Saúde, e o Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais (DSM, em inglês), da Associação Americana de Psiquiatria. A CID é mais utilizada pelos profissionais da psicologia, da psiquiatria e da neurologia, sendo um sistema internacionalmente reconhecido de classificação de enfermidades, não apenas as relacionadas ao aspecto psíquico. O DSM, por sua vez, é mais usado por acadêmicos e pesquisadores da área da saúde mental.

Alguns fatores têm mais peso que outros ao se considerar as causas que podem levar a um quadro de distúrbio mental. A frequência com que tais distúrbios se manifestam é maior do que se imagina. Segundo a OMS, 10% da população mundial possui algum tipo de disfunção. As mais frequentes são as fobias (9,2%-24,9%), a dependência de substâncias químicas (17,7%-26,6%) e os transtornos afetivos (5,5%-19,8%).

FATORES DE INFLUÊNCIA

 

Genéticos

 

Biológicos

Psicológicos

Apesar de vários casos mostrarem gerações de uma mesma família dividindo transtornos parecidos, ainda não se pode afirmar com certeza até que ponto os fatores genéticos contribuem ou não para um diagnóstico mais rápido. A influência dos genes parece se mostrar mais nas tendências e hábitos que, por sua vez, são afetados por outros fatores.

Ligados ao sistema nervoso central, a maioria dos distúrbios mentais liga-se diretamente às funções cognitivas (memória, atenção, concentração, entre outras). Dificuldades na regulação das emoções e do estresse estão conectadas ao sistema nervoso periférico, resultando, por vezes, em reações psicossomáticas (onde o corpo reponde fisicamente ao estímulo psicológico), como no caso de taquicardia e sudorese durante ataques de pânico.

Dividem-se em vulnerabilizantes, que indicam maior suscetibilidade a apresentar um transtorno mental (em geral, ligados a fatores sociais); e protetivos, que agem contra as condições estressantes, ajudando a fortalecer a pessoa contra os distúrbios. Estes podem ser pessoais ou ligados à rede social.

 DISCRIMINAÇÃO 

Será que uma pessoa com transtorno mental tem as mesmas chances de conseguir um emprego que uma pessoa que não possui o transtorno? Talvez, até tenha o mesmo nível de instrução, mas será que as chances são as mesmas?

Thalita Pacheco

psicóloga

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Você já ouviu falar em psicofobia? Para quem não conhece, é o termo que denomina a atitude preconceituosa e discriminatória contra os portadores de transtorno mental – algo ainda muito comum no Brasil, onde a divulgação de temas relacionados à saúde mental é insuficiente.

 Thalita Pacheco 

psicóloga 

“O preconceito que as pessoas têm com o transtorno mental traz uma série de dificuldades ao paciente, inclusive em relação à forma com que ele vai lidar com o que tem”, afirma a psicóloga Thalita Pacheco. “Criou-se uma crença de que o portador de transtorno mental é uma pessoa que deve viver afastada da sociedade, em manicômios, por oferecer risco. Com a instituição da Reforma Psiquiátrica, o movimento da saúde mental tentou começar a desmistificar essas crenças. É um erro relacionar o transtorno mental à violência.”

Para Thalita, um ponto importante é lutar para manter o que já foi conquistado com a Reforma Psiquiátrica e a luta antimanicomial. A desinstitucionalização progressiva e a interdição de grande parte dos manicômios foram passos, sem dúvida, muito importantes na caminhada pela implantação do tratamento humanizado. Ainda assim, hoje, 15 anos após a Lei da Reforma, ainda existem instituições públicas funcionando no antigo modelo de internação – em grande parte porque os pacientes que residiam nesses locais não possuíam nenhum vinculo familiar ou afetivo fora dos hospitais psiquiátricos na época da intervenção e não tinham outro lugar para ir. Os antigos manicômios foram substituídos pelos CAPS (Centro de Assistência Psicossocial) com a implantação da Lei 10.216.

Além dos CAPS, o poder público também oferece o Saúde da Família, com quase 32 mil equipes em todo o país, as Casas de Acolhimento Transitório (CATs), os Consultórios de Rua e as Comunidades Terapêuticas. O problema é que, mesmo com tantos programas, apenas 2% da verba destinada para o SUS são voltados para a saúde mental.

“A Reforma Psiquiátrica revolucionou a forma de tratamento dos transtornos mentais no Brasil, principalmente pela

 Resistência: clientes lutam pelo fim do preconceito

Imagem: Hotel da Loucura via Facebook 

Segundo a Associação Brasileira de Psicologia (ABP), 93% dos pacientes com esquizofrenia no Brasil não são considerados violentos. O foco, porém, sempre recai na minoria dos casos, onde há o comportamento agressivo por parte do portador do transtorno – que, provavelmente, não está sendo acompanhado por nenhuma equipe médica. Ainda segundo a ABP, 58% dos casos de esquizofrenia no Brasil não dispõem de tratamento.

 Psicóloga Thalita Pacheco fala sobre a visão da sociedade       

inclusão da família, que está mais próxima e vendo as mudanças. A sociedade em geral, infelizmente, ainda está muito distante da realidade da saúde mental no Brasil e não vê as mudanças tão de perto”, pontua Thalita. Para a psicóloga, é fundamental expandir o que se tem de informação sobre saúde mental no Brasil atualmente, inserindo um espaço de discussão do tema nas escolas, por exemplo, base de formação do cidadão brasileiro. “Talvez a gente nem precise de políticas públicas tão novas. Talvez seja preciso pensar com mais carinho naquelas que já temos. Se conseguirmos mostrar que a pessoa com transtorno mental pode ser reinserida na sociedade, talvez, no futuro, essa pessoa nunca precise ser reinserida, porque ela não terá nem sido excluída, para começar".

É um longo caminho. Algumas concepções muito comuns sobre a doença mental ainda precisam ser desmistificadas – como por exemplo, a ideia de que não existe cura, ou de que são “invenções” ou “frescura”, ou mesmo que o portador do transtorno não é capaz de levar a vida normalmente.

Acho que a primeira questão em relação às politicas públicas é a conscientização. Não só da população em geral, sobre o que é doença mental, mas do próprio portador, de ver potencial em si, mesmo com o transtorno, mesmo passando por um tratamento psíquico.

Beatriz Fontenele

psicóloga

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“O distanciamento das pessoas acaba afetando muito o tratamento do doente mental. Ele acaba tomando pra si o julgamento negativo e se vendo como alguém que não é capaz de ter uma vida em sociedade. O apoio da família, da sociedade e dos profissionais que o estão acompanhando é necessário”, reforça a psicóloga Beatriz Fontenele.

A ABP lança, anualmente, no mês de abril, uma campanha contra a psicofobia. A deste ano levou o nome de #eusoumais e direcionou seu foco, principalmente, para as redes sociais. Além de combater o preconceito contra quem possui transtorno mental, a iniciativa busca promover a autovalorização dos portadores e chamar a atenção para o reconhecimento do tratamento.

“É muito comum a pessoa se taxar como doente e não ver sua capacidade enquanto portador de transtorno”, afirma Beatriz. “E, quando a pessoa não aceita o transtorno, não há como tratar. Isso acontece muito, a pessoa não aceita e acaba não procurando ajuda ou tratamento, o que só piora a situação. Ela se fecha no conceito de doente e não se vê em suas possibilidades, suas condições, além da doença".

Abril foi eleito o Mês de Enfrentamento à Psicofobia, e o dia 12, data de aniversário do humorista Chico Anysio, foi escolhido para o Dia Nacional de Enfrentamento à Psicofobia. Grande apoiador da campanha, Chico Anysio sofreu de depressão por mais de 20 anos e foi um dos primeiros artistas brasileiros a falar abertamente sobre saúde mental.

 Psicóloga Thalita Pacheco fala sobre psicofobia no trabalho       

À reboque da campanha, veio o Projeto de Lei 74/2014, que prevê a qualificação e a tipificação de crimes cometidos contra pessoas com deficiência ou transtorno mental. Se aprovada, a Lei confere, ainda, o agravamento da punição para quem praticar qualquer tipo de ato psicofóbico – os crimes podem render de dois a seis anos de prisão. O projeto ainda está em tramitação no senado.

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